Como ensinar limites ao seu filho

Como ensinar limites ao seu filho

  Terça, 22 de outubro de 2019

    Muita gente entrega os pontos.” É com essa frase que o filósofo Mario Sergio Cortella começa a tocar na ferida de tantas famílias: a disciplina das crianças. Em seu livro recém-lançado, Família: Urgências e Turbulências (Cortez Editora, R$ 38), ele propõe discussões fundamentais sobre o assunto e convida o adulto a refletir sobre o relacionamento com o filho (confira entrevista nas páginas a seguir). Para o escritor, é crescente o número de casais que simplesmente desistem de educar, ou, nas palavras dele, “de fazer o esforço necessário para formar alguém”. E haja esforço! Tem desafio maior do que dar limites a um ser humano em formação?

    Antes de tudo, porém, é importante que um ponto fique bastante claro: disciplina jamais deve ser sinônimo de agressão física contra o seu filho, nem mesmo naquele momento em que você pensa que não há nada mais a ser feito. Além de existir uma lei que proíbe a palmada, a ciência e os especialistas são unânimes sobre as consequências negativas dos tapas, beliscões, chineladas, gritos e outras formas de violência corporal e verbal. Ao longo dos últimos 50 anos, pesquisadores das Universidades do Texas e de Michigan (EUA) realizaram um estudo com mais de 160 mil crianças – o maior e mais completo já feito sobre o tema – e concluíram que, quanto mais elas apanham, mais desafiam os pais, se tornam antissociais, ficam agressivas e podem apresentar problemas cognitivos.

    Por isso, a educação (ou disciplina) que Cortella e os demais especialistas entrevistados defendem é aquela construída na base do diálogo e das consequências das ações, que ensina a criança sobre limites e comportamentos adequados para uma boa convivência familiar e social. Antes de você entrar nessa empreitada, vale ter em mente que o caminho a ser percorrido é árduo e requer um trabalho consistente. Os pais precisam estar seguros de suas atitudes e saber que, sim, será preciso repetir muitas e muitas vezes a mesma mensagem ao filho, desde as questões simples (“agora é hora de dormir”) até as complexas (“você não deve mentir porque…”). Falar de novo e de novo faz parte do processo. “As crianças testam o limite, desafiam. E internalizam o que foi combinado pela repetição. É preciso relembrá-las constantemente”, diz a psicóloga e psicopedagoga Tania Paris, presidente da Associação pela Saúde Emocional de Crianças. Tenha isso como mantra antes de soltar o próximo: “Já falei mil vezes que não pode!”

    COMBINADOS E AFETO

    Uma estratégia eficaz para lidar com comportamentos indesejados são os combinados – mas saiba que você, adulto, deve dar o exemplo e cumprir sua parte para que os acordos funcionem. “O pai não pode flexibilizar o que foi acordado só porque está ocupado ou com pressa. Quanto menor for a criança, mais ela precisa de um campo seguro”, diz Tania. Vamos supor que você não quer que ninguém coma na sala: exponha essa regra, explique os motivos e não quebre a norma (as crianças estão sempre atentas!). Assim, se um dia ou outro o seu filho se sentar no sofá para almoçar em frente à TV, em vez de gritar, dar bronca ou se descontrolar, tente fazê-lo se lembrar do que foi dito anteriormente, questionando em tom amigável: “Onde é o lugar de comer?” Ele mesmo irá responder: “Na mesa!”. “Essa é a positividade da proibição, isto é, lembrar o limite de uma forma tolerável”, afirma a especialista.

    É preciso lembrar que, para os combinados funcionarem, é necessário que os pais conheçam o filho, o que só se consegue com muita conversa e convivência, dupla fundamental na criação e educação das crianças. “Os estudos apontam que, mesmo pequenas, elas têm entendimento do bom e do mau, do prazer e do desprazer. E elas apreendem esses conceitos pelo tom de voz e expressões faciais, e não por meio da linguagem e das palavras, como o adulto”, afirma a psicóloga Rita Calegari, da Rede de Hospitais São Camilo (SP).

    Para isso, é preciso... tempo junto! Segundo aponta a psicóloga Laércia Abreu Vasconcelos, professora da Universidade de Brasília, os pais devem ter momentos diários de carinho e diálogo com os filhos. Segundo ela, a correria do dia a dia e os compromissos profissionais não devem ser escudos para esse convívio. “A família não pode esperar que o excelente motorista, a excelente babá e a excelente escola atuem como pais e mães. Isso nunca acontecerá e o abismo se mostrará. A falta de pai e de mãe pode ter muitos efeitos desastrosos em curto, médio e longo prazo”, diz. Quando está com a criança, o adulto consegue explicar o que se espera dela e por que certas ações não são toleradas.

    Espalhar todos os brinquedos, pular no sofá, jogar bola dentro do apartamento... Diante do próximo mau comportamento, a primeira pergunta que você deve se fazer é: por que será que meu filho está agindo assim? Muitas vezes, é uma maneira de chamar a atenção dos adultos (ainda que seja para levar uma bronca), em outras, está somente se divertindo. Ou seja, não percebe que aquele ato causa algo grave. “O adulto sabe que alguns comportamentos trazem problemas, como se machucar ou bagunçar a casa, mas a criança ainda não”, diz Cassia Thomaz, professora de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). Então, ensine por que não se deve fazer aquilo e pense em alternativas para suprir a necessidade que a criança tem de brincar e de receber afeto. Vale, por exemplo, propor uma nova atividade, mais segura e que faça menos bagunça – pode testar que funciona!

    FASE A FASE

    Ainda assim, é fundamental que os pais entendam e respeitem as descobertas de cada fase da infância. Não encare como desobediência ou malcriação aquilo que é apenas um experimento típico de determinada faixa etária. Um bebê de 7 ou 8 meses, por exemplo, vai jogar inúmeras vezes o brinquedo no chão, repetidamente, por mais que os pais peçam para ele parar. Uma criança com cerca de 2 anos irá rabiscar alguma parede ou um móvel sem que você veja. E ela também vai surpreendê-lo com, pelo menos, uma birra em público, por mais limites e educação que você dê.  Tudo isso é inerente à idade. Respeitar as fases  não significa ser permissivo nem deixar que os filhos se tornem os “reis” da casa. “A criança deve entender que há coisas que fazemos porque gostamos e, outras, porque precisamos. É papel nosso explicar isso a ela e, quanto mais natural for a forma que os pais lidam com a situação, melhor”, afirma Cassia. Isto é, desde pequeno, o seu filho deve perceber que toda ação traz uma reação, positiva ou negativa.

    Como nem tudo funciona sempre da mesma maneira, se prepare! Há dias mais difíceis, em que os combinados e as conversas não surtem efeito e a criança não quer saber de entrar em um acordo. Nessa hora, você pode adotar atitudes mais práticas. Sim, estamos falando do polêmico castigo. Alguns especialistas são contra, enquanto outros acreditam que não há problema em utilizá-lo eventualmente.

    É consenso, porém, que, sozinho, ele não educa – mas pode ajudar em situações mais imediatas, seja para apaziguar os ânimos ou para mostrar que são os pais que têm a palavra final.  “O castigo é uma restrição, como uma multa, devido a um comportamento que não é do agrado dos pais. Às vezes, o filho não sabe por que está sendo punido nem que fez algo errado”, afirma a psicóloga clínica Ana Cássia Maturano, de São Paulo (SP). “Nós, psicólogos, preferimos falar mais em ‘consequência’ do que em ‘castigo’. Incentivamos que os pais expliquem os resultados dos atos à criança. Ela deve entender que existem regras para o bem viver”, diz a psicóloga Rita.

    Mas, antes de sair aplicando castigos (ou consequências) à revelia, o casal precisa estar alinhado sobre o que quer ensinar ao filho.“É necessário pautar os valores”, diz a coordenadora do ambulatório do Centro de Referência da Infância e Adolescência do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, Vera Zimmermann. A seguir, confira dicas do que pode funcionar aí na sua casa e acalme o seu coração: você sabe (e o seu filho também) que dar limites e educar são atos de amor. Tenha isso em mente!

    SEM DIVERSÃO

    Deixar o seu filho durante um ou dois dias sem o brinquedo favorito dele pode ser uma forma de ajudá-lo a entender que o ato errado teve consequência. Os especialistas dizem que, atualmente, os eletrônicos (como tablets e videogames) costumam ser os itens dos quais a criança mais sente falta nessas situações. Só fique atento à reação do seu filho: para alguns, ficar sem o objeto funciona. Para outros, o que resolve é ser impedido de ir a uma festa de aniversário, à casa de um amigo ou a um passeio esperado. Apenas tome cuidado para que o castigo não penalize os irmãos e o restante da família. Também é importante reforçar que os pais devem sempre explicar por que o filho está perdendo algo temporariamente. Uma vez anunciado e aplicado o castigo, não volte atrás e não devolva o item antes do combinado.

    MÃO NA MASSA

    Você entra no quarto da criança e arregala os olhos. Ela fez uma bagunça tão grande que mal dá para acreditar. O seu filho tirou todas as roupas da gaveta, puxou o rolo do papel higiênico, espalhou os brinquedos pelo quarto, pintou a parede com seu batom favorito ou fez qualquer outra arte desse tipo… Então, nada mais justo que ele ajude na limpeza e arrumação. Explique por que aquilo é errado e diga que só poderá voltar a brincar depois que participar da organização de tudo. Assim, ele entenderá como é trabalhoso, demorado e cansativo o “pós-bagunça”, e pensará melhor antes de fazer a próxima confusão.

    CADA UM NO SEU CANTO

    Uma estratégia adotada por muitos pais é deixar a criança sentada, quieta, isolada por alguns poucos minutos, sem distrações, como TV ou brinquedos, para que ela entenda que a ação errada teve uma consequência. Essa forma de lidar com o mau comportamento divide os especialistas. Enquanto alguns psicólogos refutam o método, outros dizem que ele pode ser usado eventualmente. Para a psicóloga Ana Cássia Maturano, a criança não vai usar aquele tempo para “pensar no que fez de errado”, como alguns pais acreditam. Mas a estratégia visa, isso sim, acalmar os ânimos de ambos os lados (do adulto e do filho) quando a situação está muito tensa para que, um tempo depois, a conversa possa fluir melhor. O curioso é que, mesmo parecendo um castigo relativamente fácil de ser aplicado, muitas famílias têm dificuldade para colocá-lo em prática: um estudo da Universidade de Yale (EUA) descobriu que 85% dos pais sabotam a própria tática e, consequentemente, a criança fica perdida, sem entender o que toda aquela cena significa. De acordo com os cientistas de Yale, há alguns detalhes a serem observados. Confira:

    O que fazer
    - Coloque a criança no “cantinho” imediatamente após se comportar mal.
    - Ela deve se manter sentada, quieta e sem briquedos.
    - Cumpra o tempo estipulado. Depois, explique o que ela fez de errado.

    O que não fazer
    - Não avise muitas vezes que ela irá para o “cantinho”.
    - Não diminua o tempo estipulado.
    - Não converse com a criança durante o período.
    - Não ofereça livros ou atividades para ela se distrair.

    TODOS EM SINTONIA

    As pessoas são naturalmente diferentes. É por esse motivo que o pai e a mãe, sejam eles casados ou divorciados, podem ter ideias um pouco discrepantes (ou opostas!) sobre a criação dos filhos. É comum que um coloque de castigo e o outro tire; um repreenda, o outro diga que não precisa tanto. Soa familiar? Diante desse tipo de situação, tenha cuidado para que a criança não fique confusa sobre o que pode e o que não pode, o que é aceitável e o que não é. O seu filho deve entender, com clareza, as regras da casa, da rotina e da família. Para isso, o casal tem que passar por cima das diferenças e combinar, entre eles, o que se espera da criança, o que pode ser relevado e o que é inaceitável no comportamento.

    Fonte: revistacresc

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