Levantamento feito pelo site comparador de preços Zoom mostra que nem sempre os produtos que os consumidores planejam comprar ganham descontos na Black Friday. Os celulares, por exemplo, que foram a categoria mais buscada no site um mês antes da Black Friday do ano passado, não apareceram entre as categorias com maior média de descontos durante o evento. E a média de desconto do produto foi de 1% - veja os rankings com os produtos e os descontos ao final da reportagem.
De acordo com Edu Neves, CEO Brasil do Reclame Aqui, o varejista brasileiro tem o costume de colocar em promoção os modelos de produtos mais antigos e deixar o modelo novo com o mesmo preço sugerido pelo fabricante. Aí o varejo aproveita para vender o que está encalhado no estoque, impulsionado pelo lançamento de um modelo mais avançado. Isso acontece muito com smartphones e TVs, segundo ele.
“Saiu o iPhone X, o preço em todos os sites é igual ao do fabricante, mas o iPhone 8 está mais barato. O varejista vende mais o que está encalhado”, explica.
Para Neves, se o consumidor deixasse de comprar o produto mais antigo, os lojistas poderiam passar a colocar o modelo novo em promoção.
Para Ricardo Bove, fundador do site www.blackfriday.com.br, o consumidor precisa entender que no Brasil os varejistas decidem com os fabricantes o que vai ter desconto. “No caso dos eletrônicos, dificilmente você vai conseguir grandes descontos em lançamentos, mas sim no que já está há mais tempo no mercado. A linha intermediária, entre os mais antigos e os mais novos, lançada há 6 ou 8 meses, traz produtos muito bons e é possível conseguir descontos mais relevantes”, afirma.
Segundo Pedro Guasti, diretor de relações Institucionais da Ebit|Nielsen, é importante para os varejistas conseguirem boas negociações com fornecedores e fabricantes, mas nem sempre todos os produtos estão disponíveis para desconto. “Geralmente os grandes descontos são para produtos que estão no mercado há um certo tempo, há um ou dois anos, e nesse caso o desconto pode chegar a 40%”, diz. "Um desconto de 20% a 30% para uma TV de R$ 1,5 mil é muito bom".
Guasti explica que, para conseguir dar descontos, o varejo precisa da ajuda da indústria. "Somente o comerciante queimando margem pode levar ao prejuízo”, afirma.
Thiago Flores, CEO do Zoom, site comparador de preços e produtos, diz que não há regra que obrigue todos os produtos a terem desconto na Black Friday, a não ser que o varejista consiga uma negociação excepcional com o fornecedor.
Segundo Flores, as grandes negociações envolvem barganha de compra com os fabricantes. “Claro que há marcas que têm política de preço forte e a fabricante tem interesse em segurar o preço do produto, aí teria de ocorrer um alinhamento por estratégia de preço”, explica.
Para o CEO do Zoom, a política de preços depende muito da flexibilidade do fabricante e decisão de margem do varejista.
Ele explica que os fabricantes não querem “queimar” o produto que foi lançado, por exemplo, em setembro. “Se eles queimam o preço, passa um mês, o valor acaba se equiparando com o do modelo anterior. Essa não é a política nem a estratégia das empresas”, afirma.