Miguel tinha 5 anos quando faleceu ao cair do 9º andar do prédio de luxo em que Mirtes trabalhava como empregada doméstica, no Cais de Santa Rita, no Centro do Recife. Segundo ela, o luto pela morte do filho trouxe a determinação para começar uma nova carreira, além da força para enfrentar preconceitos.
“Eu já estou preparada para os desafios. Pode ser que eu passe por algum preconceito, mas já estou passando por coisas piores. Nada se compara à dor que estou sentindo”, declarou.
Os planos de chegar ao ensino superior, segundo Mirtes, eram antigos. “Antes, eu pensava em fazer administração a distância, para poder ter tempo de cuidar de Miguel. Agora, com essa tragédia, acabei escolhendo o direito porque senti na pele as injustiças e a morosidade do sistema. Me vi nessa missão de cursar direito para poder ajudar outras pessoas”, disse.
Conciliar o trabalho em uma organização não-governamental no Recife com a faculdade também vai ser outro desafio na nova rotina da mãe de Miguel. “Eu vou participar de um treinamento para dar palestras, fazer oficinas. Já expliquei que vou começar a faculdade, que tenho essa necessidade de conciliar o trabalho e os estudos, e me disseram que não vai ter problema”, contou.
A graduação de Mirtes vai ser feita de forma presencial, a partir do primeiro semestre de 2021. Ao falar das expectativas com relação à vida de universitária, a tristeza dá lugar à empolgação em seu tom de voz. “Fiz a prova, passei, entreguei a documentação, fiz a matrícula. Agora só falta começar”, falou.
Além da torcida de parentes, amigos e advogados que acompanham Mirtes após a morte de Miguel, a ex-empregada doméstica também sente, no coração de mãe, o orgulho do filho pela decisão de se tornar advogada. “Ele sempre teve orgulho de mim. Em qualquer brincadeira com os meninos da rua, em qualquer festa que eu organizava, ele dizia ‘foi a minha mamãe que fez’. Agora ele deve estar muito orgulhoso”, afirmou.
A primeira audiência do Caso Miguel foi agendada para o dia 3 de dezembro, no Recife. "Estou muito confiante", afirmou. Além da esfera criminal, a mãe, o pai e a avó de Miguel pediram na Justiça uma indenização por danos materiais e morais, totalizando R$ 987 mil, a Sari Gaspar Corte Real, primeira-dama de Tamandaré e ex-patroa de Mirtes.