'Não rejeitamos estrangeiros se forem turistas, cantores ou atletas famosos, rejeitamos se forem pobres', diz escritora e filósofa espanhola

  Quarta, 04 de novembro de 2020
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"Não rejeitamos estrangeiros se forem turistas, cantores ou atletas famosos, rejeitamos se forem pobres", diz escritora e filósofa espanhola

    Escritora e filósofa espanhola Adela Cortina, explica em entrevista à BBC, por que cunhou termo 'aporofobia' (aversão a pessoa pobre'): 'as pessoas precisam dar nomes às coisas para reconhecer que existem e identificá-las'.

    A escritora e filósofa Adela Cortina (nascida em Valência, Espanha, em 1947) tem, entre suas muitas realizações, a de ter levado à língua espanhola um termo que a Real Academia da Língua adotou para definir o ódio aos indigentes, a aversão aos desfavorecidos.

    E é precisamente esse termo que abre o título de seu último, Aporofobia, el rechazo al pobre (Aporofobia, a rejeição ao pobre, em tradução livre). Nascida em Valência, Espanha, em 1947, Adela é doutora honoris causa por diversas universidades, membro da Real Academia de Ciências Morais e Políticas de Espanha (foi a primeira mulher em fazer parte dessa instituição), professora emérita de Ética da Universidade de Valência e diretora da fundação Étnor.

    Ela concedeu entrevista à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, no Hay Festival Arequipa 2020, no Peru, um encontro virtual de escritores e pensadores.

    A seguir, os principais trechos da entrevista.

    BBC Mundo - Você cunhou há mais de 20 anos o termo "aporofobia", reconhecido pela Real Academia da Língua e incluído em seu dicionário. Como surgiu? De onde vem etimologicamente? Adela Cortina - O termo "aporofobia" vem de duas palavras gregas: "áporos", o pobre, o desamparado, e "fobéo", que significa temer, odiar, rejeitar. Da mesma forma que "xenofobia" significa "aversão ao estrangeiro", aporofobia é a aversão ao pobre pelo fato de ser pobre.

    E a palavra surgiu da forma mais simples, quando percebemos que não rejeitamos realmente os estrangeiros se são turistas, cantores ou atletas famosos, rejeitamos se eles são pobres, imigrantes, mendigos, sem-teto, mesmo que sejam da própria família.

    BBC Mundo - Por que é importante que haja uma palavra para denominar o ódio aos sem-teto?

    Cortina - Porque as pessoas precisam dar nomes às coisas para reconhecer que existem e identificá-las; ainda mais se forem fenômenos sociais, não físicos, que não podem ser apontados com o dedo.

    Nomear a rejeição aos pobres permite-nos tornar visível esta patologia social, investigar as causas e decidir se concordamos que continue a crescer ou se estamos dispostos a desativá-la por nos parecer inadmissível.

    BBC Mundo - A aporofobia é um fenômeno especialmente de nossos tempos, em que o sucesso e o dinheiro são concebidos por muitos como valores supremos?

    Cortina - Infelizmente, a aporofobia sempre existiu, está nas entranhas do ser humano, é uma tendência universal.

    O que acontece é que algumas formas de vida e algumas organizações políticas e econômicas promovem a rejeição aos pobres mais do que outras. Se em nossas sociedades o sucesso, o dinheiro, a fama e o aplauso são os valores supremos, é praticamente impossível fazer com que as pessoas tratem todas as pessoas igualmente, reconhecendo-as como iguais.

    BBC Mundo - Como a aporofobia se manifesta na sociedade? Você pode nos dar alguns exemplos?

    Cortina - Claro. Imigrantes e refugiados não são bem-vindos em todos os países, inclusive alguns partidos políticos ganham votos quando prometem fechar suas portas. Tratamos com muito cuidado pessoas que podem nos fazer favores, nos ajudar a encontrar um emprego, ganhar uma eleição, nos apoiar a vencer um prêmio e abandonamos aquelas que não podem nos dar nada disso.

    A sabedoria popular diz que você deve trocar favores em frases como "hoje por você, amanhã por mim", e os pais muitas vezes aconselham seus filhos a se aproximarem de crianças em melhor situação. O bullying escolar é um exemplo de aporofobia.

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