Professor com 24 anos de carreira é avisado da demissão por uma janela pop-up: 'Visto como um custo'

  Sexta, 16 de outubro de 2020
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Professor com 24 anos de carreira é avisado da demissão por uma janela pop-up: "Visto como um custo"

    engenheiro naval que se dedicou à docência foi um dos milhares de demitidos no ensino superior privado brasileiro durante a pandemia da Covid.

    O engenheiro naval Rodrigo Mota Amarante, 44 anos, passou quase todas as últimas duas décadas e meia dando aulas, do ensino fundamental à pós-graduação. Pelo seu quadro negro passaram fórmulas de química, física e matemática e temas envolvendo vibrações dos materiais e mecânica dos fluidos.

    Ele não ficou a salvo dos impactos da crise econômica na educação, intensificados pela chegada do coronavírus. Amarante foi um dos milhares de professores demitidos no ensino superior privado durante a pandemia.

    A carreira de Amarante, que começou meio “sem querer” ao cobrir a aula de uma professora de cursinho em 1996, teve uma interrupção abrupta em 22 de junho deste ano. “Quando entrei no sistema, já apareceu lá o ‘pop-up’ [janela que abre no navegador]: você está desligado”, conta. “É frio demais. O semestre não tinha acabado, teve colegas que não conseguiram nem colocar as notas no sistema”, relata.

    Expansão do ensino remoto

    Para Amarante, a demissão foi o resultado de um processo que já estava correndo nos bastidores do ensino superior privado.

    Em dezembro de 2018, o Ministério da Educação (MEC) editou uma portaria que permitia às universidades montar currículos de cursos presenciais com até 40% da carga horária em atividades a distância.

    O ensino remoto em todos os cursos, sem limites na carga horária, foi estendido até dezembro de 2021 por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), que assessora o MEC nas políticas educacionais.

    Com isso, é possível reunir turmas em um mesmo ambiente virtual. Onde antes eram necessários dois ou três professores, por exemplo, agora basta um.

    “O professor foi visto como um custo. As particulares já estavam querendo expandir o ensino a distância mesmo antes da pandemia e, quem ficou dando aula, conta que agora tem 200 alunos nas salas virtuais. Como ensinar em um ambiente assim? Como tirar dúvidas?”, afirma o professor Rodrigo Amarante.

    "As universidades encheram as salas e demitiram professores", conta.

    Amarante conta que houve redução das horas de trabalho dos professores, para cortar salários. Quem tinha quatro horas de aulas por dia, por exemplo, passou a ter três. Ele afirma ter se recusado a assinar uma carta dizendo que concordava com a redução. Meses depois, foi demitido.

    A Uninove, em nota, afirma que as "aulas telepresenciais estão acontecendo com boa avaliação de professores e alunos, com smartphones e banda larga para todos professores e chip de 20 giga para alunos como benefício" e que cumpre "integralmente as orientações definidas para o sistema federal de ensino, proferidas pelo Ministério da Educação – MEC".

    Menos um professor

    "O Brasil não valoriza o professor. É só ver nas greves, como ele é tratado. Falam: 'está bloqueando o trânsito', ou 'isso é coisa de comunista'", conta. "Os alunos perguntam: professor, você trabalha além de dar aula?", fala, sorrindo. Para ele, entre as frases sobre a carreira que mais o magoa é: "Quem sabe faz, quem não sabe ensina".

    "É o contrário", defende Amarante. "Quem sabe é quem ensina."

    Amarante fez graduação, mestrado e doutorado em engenharia naval, além de pós-doutorado em engenharia mecânica pela USP.

    Mas o mercado de trabalho para professores apresenta desafios. Os concursos nos quais estava inscrito foram cancelados ou suspensos. Nas instituições particulares, há cortes de vagas e os salários estão cada vez menores.

    Além da docência, ele trabalhava com análise de projetos de navios ou plataformas e avaliava se uma estrutura era estável para ser submetida aos ventos e às ondas do mar. Também testava ou simulava ideias que nunca foram implementadas. "Não pretendo voltar a atuar como professor nos próximos anos. Vou usar o que sei em uma nova profissão: cientista de dados."

    Ele afirma que conseguiu se recolocar e obteve uma remuneração quatro vezes maior do que como professor.

    Para ele, a ideia de que o professor tem amor pela profissão só atrapalha.

    "O primeiro ponto para entender que professor é importante é parar com a 'glamourização' da profissão, se não é muito fácil o empregador pagar um salário baixo porque 'o professor adora o que faz'", reflete.

    "A paixão do professor é papo de 15 de outubro. Virou marketing."

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