As vencedoras dividirão o valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).
Antes de Charpentier e Doudna, cinco mulheres já haviam ganhado o Nobel em Química: Marie Curie (1911), Irène Joliot-Curie (1935), Dorothy Crowfoot Hodgkin (1964), Ada E. Yonath (2009) e Frances H. Arnold (2018).
Para a geneticista brasileira Mayana Zatz, que usa o Crispr em seu laboratório – o Projeto Genoma da USP – a tecnologia descoberta por Charpentier e Doudna é "fantástica" (veja detalhes de como funciona mais abaixo nesta reportagem). "É uma ferramenta absolutamente fantástica para estudar doenças genéticas, e que vai ter aplicação terapêutica num futuro muito próximo – já esta tendo, em doencas hematológicas e câncer", afirma a cientista.
Com a vitória das duas cientistas, o Prêmio Nobel já tem três laureadas mulheres neste ano. A primeira foi Andrea Ghez, premiada em física com outros dois cientistas por sua pesquisa sobre buracos negros.
Para a física Márcia Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ciências e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a descoberta das cientistas é "muito bonita", e a premiação simboliza uma vitória para as mulheres.
"Elas fizeram uma descoberta muito bonita, que é um processo que consegue fazer edição genética. Muita gente diz que isso não é química, [que] é biologia, mas, no fundo, esse é um processo químico que é uma ferramenta muito interessante não só para a gente entender o comportamento dos nossos genes, mas também como um instrumento de melhoria da vida das pessoas", avalia.
"O Nobel envia convites para as instituições e algumas pessoas que eles selecionam, no mundo, para indicarem para o prêmio. E essas pessoas indicam o que vem à mente. E o que vinha sempre eram nomes de homens. Estamos vendo que, finalmente, as pessoas começam a pensar ‘mas, olhe, tem aquela cientista maravilhosa’. E, com isso, os nomes aparecem. E, com o aparecimento de nomes de mulheres, nós estamos vendo acontecer o que tinha que acontecer – que é ter uma representação mais diversa no Nobel", diz Barbosa. "Esperamos que isso continue acontecendo e que também tenhamos, daqui a pouco, uma apresentação mais diversa na questão racial. Mas tudo isso é uma construção que precisamos fazer no nosso cotidiano. Ontem [com a vitória de Andrea Ghez] e hoje, para mim, como feminista, é um dia de grande satisfação, porque significa que a nossa luta conseguiu avançar um pouquinho", afirma a diretora da Academia Brasileira de Ciências.
O que é o Crispr?
O Crispr/Cas9 é uma espécie de "tesoura genética", que permite à ciência mudar parte do código genético de uma célula. Com essa "tesoura", é possível, por exemplo, "cortar" uma parte específica do DNA, fazendo com que a célula produza ou não determinadas proteínas.
A pesquisa com a descoberta da ferramenta foi publicada na revista científica "Science", uma das mais importantes do mundo, em junho de 2012.
Usando o Crispr, cientistas podem alterar o DNA de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão. A tecnologia "teve um impacto revolucionário nas ciências da vida", segundo o comitê do Prêmio Nobel, e está contribuindo para novas terapias contra o câncer. A ferramenta também pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias (veja infográfico).