Governo publica nova portaria com regras sobre aborto em caso de estupro, mas mantém obrigatoriedade de médico avisar a polícia

  Sexta, 25 de setembro de 2020
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Governo publica nova portaria com regras sobre aborto em caso de estupro, mas mantém obrigatoriedade de médico avisar a polícia

    Nova edição é publicada na véspera do STF julgar a portaria, mas o julgamento foi retirado da pauta logo após a publicação do texto. Para especialistas, mudança foi 'jogo de palavras' e 'jogada política' do Ministério da Saúde.

    O governo federal publicou nesta quinta-feira (24), no Diário Oficial da União (DOU), uma nova edição da portaria que estabelece o procedimento para realização de aborto em caso de estupro. Apesar de retirar a palavra "obrigatoriedade", o novo texto mantém a regra dos profissionais da saúde de denunciarem o caso à polícia, independentemente da vontade da vítima.

    "A reedição manteve a obrigatoriedade da notificação dos profissionais da saúde à polícia. Eles apenas mudaram a regra de lugar na portaria, que antes estava no Artigo 1 e agora está no Artigo 7º", explica a pesquisadora em gênero do Anis - Instituto de Bioética, Luciana Brito.

    Brito explica que a nova portaria obriga o profissional da saúde a comunicar a polícia em até 24 horas, desrespeitando o código de ética dos profissionais da saúde.

    "O texto cita uma Ação Penal Incondicionada, dando a entender que já era uma obrigatoriedade do hospital e dos profissionais fazerem a denúncia. Mas isso não é correto, a Ação Penal Incondicionada somente obriga a Justiça a denunciar, o Ministério Público no caso", explica Brito.

    "Não é obrigação do médico fazer a denúncia. A função primordial dele é de cuidar da vítima e de guardar sigilo se assim ela quiser", diz a pesquisadora.

    A edição foi publicada um dia antes do Supremo Tribunal Federal julgar a imposição dos profissionais da saúde em denunciar o caso à polícia, descrita em portaria editada no fim de agosto. Por isso, para especialistas, a publicação pode ser interpretada como uma manobra política.

    "Isso [nova edição] pode ser uma jogada política para confundir o STF, mas a gente espera que o ministro relator entenda que a natureza da reedição da portaria é a mesma", afirma Brito.

    A professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora em gênero, Débora Diniz, afirmou nas redes sociais que a reedição da portaria é um "jogo de palavras" e "uma chacota" com o STF.

    "Ministério da saúde reeditou a portaria do aborto. Na véspera do julgamento do STF. Uma chacota com a corte pelo jogo de palavras. O dever do médico de comunicar a polícia ficou ainda pior: agora há referência legal para intimidar os médicos", publicou nas redes sociais a pesquisadora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB).

    Contudo, o julgamento da portaria com as novas regras para o aborto legal não deverá mais acontecer, já que ele foi retirado da pauta do STF logo após a publicação do novo texto.

    Em nota, o Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que encaminhou a nova edição da portaria sobre as regras para realização do aborto legal ao Departamento Jurídico.

    "O CFM tomou conhecimento da portaria publicada pelo Ministério da Saúde e a encaminhou para avaliação de seu Departamento Jurídico e de sua Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia. Os conselheiros e técnicos vão analisar os pontos contidos no documento e seu impacto no exercício da profissão", informou a nota.

    O texto foi publicado no DOU nesta quinta tem a assinatura do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

     

    O que estabelece a portaria

    Na portaria anterior, o texto estabelecia como "obrigatória a notificação à autoridade policial pelo médico, demais profissionais de saúde ou responsáveis pelo estabelecimento de saúde que acolheram a paciente sobre os indícios ou confirmação do crime de estupro."

    Já o novo texto retira a palavra "obrigatória", mas mantém que o dever de “o médico e os demais profissionais de saúde ou responsáveis pelo estabelecimento de saúde que acolherem a paciente dos casos em que houver indícios ou confirmação do crime de estupro” de “comunicar o fato à autoridade policial responsável”.

    Ambas as portarias estabelecem que os profissionais da saúde também devem “preservar possíveis evidências materiais do crime de estupro a serem entregues imediatamente à autoridade policial ou aos peritos oficiais, tais como fragmentos de embrião ou feto”.

     

    Mudanças

    Como pontos positivos, Brito destaca que a nova portaria retirou o trecho que determinava que a equipe médica deveria informar à gestante a possibilidade de se realizar uma ultrassonografia, para que a vítima de estupro visualizasse o feto ou embrião.

    "Como é uma situação de estupro, a mulher poderia ser submetida a uma situação de tortura [ter que ver o feto resultado do estupro]", diz a pesquisadora.

    Outra mudança foi a retirada do artigo que dizia que a paciente deveria "proferir expressamente sua concordância, de forma documentada" ao procedimento do aborto em caso de estupro.

    No Brasil, o aborto é permitido por lei e realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em três cenários:

    • se a gravidez é decorrente de estupro;
    • se a gestação representa risco de morte para a mãe;
    • e em caso de bebês com diagnóstico de anencefalia (sem cérebro viável).

     

    O que diz o Ministério da Saúde

    Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que a portaria oferece segurança jurídica aos profissionais da saúde e que a notificação à polícia é importante para que a Justiça inicie as investigações o quanto antes.

    "A normativa mantém o apoio e a segurança jurídica aos profissionais de saúde envolvidos no procedimento. O objetivo é reduzir o número de casos de violência sexual contra mulheres e crianças e apoiar as autoridades policiais na identificação dos responsáveis, garantindo a segurança e proteção de pacientes com indícios ou confirmação de abuso sexual. A partir da notificação policial, se torna possível a instauração de procedimentos que possam levar à punição rápida dos criminosos", disse a pasta em nota.

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