Para Bovo, os contratos futuros da carne sinalizam para um meio-termo entre os valores praticados antes e depois de novembro.
"O mercado já achou um teto, que é o primeiro passo para encontrar o equilíbrio. Uma boa referência são os preços negociados no mercado futuro, que estão 19% acima do que vinha sendo negociado antes do movimento de alta”, explicou especialista."Então, o equilíbrio (de preço) da carne bovina seria uma alta ao redor de 20% do que o consumidor estava habituado a pagar (antes da crise), e não os 45% de alta que chegamos a ter em novembro", completa Bovo.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que a abertura de novos mercados e as habilitações de novos frigoríficos para vender para a China criaram uma euforia no setor, mas que ela já passou.
"No início houve uma euforia, mas o mercado chinês já se acomodou e o mercado brasileiro vem se acomodando", disse Tereza, durante evento em Patos de Minas na última quinta-feira (9).
“É muito difícil ela (carne) voltar aos patamares antigos para o produtor. O consumidor vai ter esse pequeno aumento”, acrescentou a ministra.
Alta era esperada pelo setor
O setor produtivo argumenta que uma alta era inevitável em 2019, mas que a China, que passa por uma crise de peste suína africana que matou milhões de animais e reduziu a oferta da carne mais consumida no país, fez os valores dispararem.
Para aumentar as compras, os chineses habilitaram diversos frigoríficos brasileiros no ano passado. Atualmente 102 indústrias brasileiras estão autorizadas a vender para China:16 de carne suína, e 48 de carne de frango, 37 de carne bovina e 1 de carne de asinino (jumento).
"Esse 'soluço' (de preços) de outubro, novembro e dezembro proporcionou esse desajuste. A expectativa é que haja uma acomodação de demanda e volumes", disse em dezembro o presidente da associação dos frigoríficos exportadores de carne bovina (Abiec), Antônio Camardelli.
"A expectativa é que ainda haja uma 'zona cinzenta' até o ano novo chinês (25 de janeiro), depois os preços devem se estabilizar", completou.
Consideradas como "rota de fuga" quando o preço do boi dispara, as carnes de frango e porco continuaram a subir no fim de 2019 enquanto a bovina caía.
A analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea) Juliana Ferraz explica que os valores continuaram firmes por causa de toda a valorização do boi no ano passado. Além disso, houve fatores específicos.
No caso dos suínos, a carne de porco é tradicionalmente mais consumida nas festas de fim de ano, o que manteve o ritmo de alta nos últimos dias do ano passado. Em janeiro, os valores estão estáveis.
Já, no caso do frango, o preço mais alto de porco e boi ajudou na alta. Além, disso os valores do milho e da soja, principais insumos da ração, subiram, deixando o custo de produção do criador maior.
"Tem um agravante que é a grande dependência dos preços do milho, que também está em alta. Apesar da safra enorme que tivemos em 2019, as exportações do cereal também foram recorde, gerando alta de preços no mercado interno o que agravou a alta do frango e suíno" explica o analista Leandro Bovo.
"O frango até teve uma valorização, mas inferior à dos insumos", disse Juliana.
Segundo associação que representa os frigoríficos do setor (ABPA), além das exportações e da disparada da carne bovina, outros fatores influenciam os preços do frango e do porco:
- Dólar alto;
- Falta de oferta de animais no mundo e exportação aceleada;
- Milho utilizado na ração dos animais ficar mais caro.