ara cada criança ou adolescente à espera de adoção no Brasil, existem cinco candidatos a pais. Mas o que impede a fila de andar mais rápido é uma exigência desses candidatos em relação à idade da criança.
Quinze anos de idade e a vida dividida em vários abrigos. “Sinto falta de afeto, carinho”, diz Franciele Machado. A Franciele faz parte do grupo de mais de 9 mil crianças e adolescentes que aguardam pela adoção no país. A maioria já tem mais de sete anos de idade e uma barreira a enfrentar.
Uma fundação em Porto Alegre é um dos lugares que abrigam quem aguarda pela adoção. Só que as pessoas habilitadas a adotar dificilmente vão até lá. Elas preenchem um cadastro com o perfil da criança que esperam. Geralmente com até 3 anos de idade. Assim não conhecem o rosto, não ouvem a voz, não sabem o jeito de quem já passou dessa idade e também precisa de uma família.
Por isso, a Justiça está dando visibilidade para essas crianças e adolescentes através de um aplicativo para celular. Vão ter acesso as quase 45 mil pessoas registradas no Cadastro Nacional de Adoção. O aplicativo "Deixa o amor te surpreender" traz fotos, trabalhos escolares e vídeos.
“Para que a própria criança e o adolescente possam se apresentar, dizer exatamente quem são e o que gostam de fazer, para que aquele pretendente a adoção possa enxergar. Em algum momento, se apaixonar"’, explica Nara Cristina Saraiva, coordenadora da Infância da Juventude.
“É um aplicativo simples, mas tem uma profundidade enorme. Você vai ver ele correndo, jogando bola. Vai dizer: 'É meu filho, joga igual a mim'. Ou cantando, olha que voz maravilhosa”, exemplifica o analista de sistema Nilson Ayala Queiroz, que foi quem teve a ideia. Baseado na própria experiência dele e da Karine como pais adotivos. O casal queria adotar um bebê. Só que daí, ela foi trabalhar na reforma de um abrigo.
“Eu vi e me apaixonei na mesma hora pelos dois, que já estavam maiorzinhos e eram dois meninos, não era uma criança só. É uma coisa completamente diferente do cadastro, da intenção de adotar. Foi completamente diferente naquele momento”, conta a arquiteta Karine Queiroz.
Na época, o Iuri tinha 7 e o Wesley, 4 anos de idade. Hoje, eles estão entre os primeiros fãs do aplicativo. “Eu achei legal para ajudar as pessoas", diz Iuri. "Às vezes você não tem como ir até o lugar. O aplicativo vai te dar essa vantagem. Para quem está esperando, vai ser ótimo!”, promove Wesley.
A possibilidade de conhecer as crianças faz mesmo a diferença. A Cida e o Mauro esperaram por sete anos por um bebê. Até que visitaram um abrigo.
Saíram de lá não com uma, mas com seis crianças, todos irmãos, com idades entre 3 e 12 anos.
“Quando a gente chegou lá, eu vou dizer assim, olha, foi uma coisa muito impressionante”, diz Mauro. “Todos queriam me abraçar, queriam abraçar o Mauro, e já nos chamaram de pais”, conta Cida.
Assim, chegaram Anthony, Raí, Yasmin, João Vitor, Ana Vitória e Andrielly. Uma família finalmente completa.