"Cuida dos seus dentes, porque mulata tem isso de bom". Essa foi a frase dita por uma médica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central de Santos, no litoral de São Paulo, a uma paciente de 12 anos, nesta terça-feira (26), segundo a mãe da vítima. De acordo com a gerente comercial Michele Lima, de 36 anos, antes disso, a profissional já tinha se referido aos pacientes que reclamavam da demora de atendimento como 'galinhada'.
Ao entrar no consultório, conforme conta a mãe da criança, a médica perguntou o que a menina tinha e não a examinou. Ela relata que levou a filha ao hospital devido a feridas que ela sentia na boca. "Enquanto ela escrevia o nome da minha filha na ficha, ela chamou o pessoal que estava lá fora reclamando de ‘galinhada’. Eu falei, são pessoas e não galinhada, e ela disse que para ela parecia um monte de galinhas", relata.
Durante o atendimento, Michele afirma que a médica diagnosticou a criança com afta e, ao olhar seus dentes, comentou 'cuida dos seus dentes, porque mulata tem isso de bom, os dentes'. A mãe afirma que a filha foi vítima de racismo, além de alegar um péssimo atendimento.
"Ela diagnosticou minha filha com afta, mesmo ela estando com a boca cheia de feridas, e quando a questionei sobre a procedência do diagnóstico, ela disse: eu quero tratar como afta, você vai ter o dinheiro para comprar o remédio?", relata.
Michele relata que chegou na UPA aproximadamente ÀS 6h30 e passou pelos primeiros procedimentos para atendimento. Quando faltava um número para a filha ser chamada ao consultório médico, o sistema travou e os funcionários informaram que realizariam o trabalho manualmente.
"Começaram a colocar as pessoas sem sequência de senha, sem utilizar o critério de separar os que já estavam aguardando há muito tempo dos que tinham acabado de chegar. Tive que intervir para ser atendida conforme a classificação inicial que minha filha estava. A situação não pode ser resolvida de qualquer forma só porque estamos em um sistema público de saúde", diz.
A profissional foi chamada pela coordenação da UPA para prestar esclarecimentos sobre a demanda e informou que os fatos não ocorreram conforme narrado pela paciente.
Todavia, no intuito de evitar possível embaraço aos pacientes e à profissional, a Fundação do ABC solicitou à empresa responsável pelos plantões médicos da UPA a substituição da médica em questão, que já não integra mais os quadros da UPA Central.