A crise de legitimidade do governo venezuelano atingiu nesta quarta-feira (23) um novo patamar. O líder da oposição, Juan Guaidó, se declarou presidente interino, e teve o reconhecimento dos Estados Unidos, do Brasil e de outros países que contestam a reeleição de Nicolás Maduro.
Nas ruas, manifestantes contrários a Maduro fazem protestos no país inteiro - oito pessoas morreram nessas manifestações desde as primeiras horas desta quarta-feira.
Cercado por milhares de apoiadores nas ruas do centro de Caracas, Juan Guaidó ergueu a mão e fez o juramento:
“Eu assumo formalmente os poderes do Executivo nacional como presidente interino da Venezuela”.
O gesto abriu um novo capítulo na crise política que há anos consome a Venezuela e que se agravou desde que o presidente Nicolás Maduro assumiu o segundo mandato, no dia 10 de janeiro. A oposição venezuelana e boa parte da comunidade internacional alegam que a eleição, em maio de 2018, foi marcada por fraudes e que o novo mandato de Maduro é ilegítimo.
Pouco antes da posse de Maduro, Juan Guaidó, de 35 anos, assumiu a presidência da Assembleia Nacional, que é o Congresso da Venezuela, e que é controlado pela oposição.
Guaidó defende que, pela Constituição venezuelana, na ausência de um governo legítimo, o poder deve ser exercido pelo presidente da Assembleia Nacional até que sejam realizadas novas eleições.
Minutos depois de Juan Guaidó se declarar oficialmente presidente interino da Venezuela, a Casa Branca reconheceu o novo governo. O presidente Donald Trump afirmou que vai continuar usando a influência econômica e diplomática dos Estados Unidos para pressionar pela restauração da democracia na Venezuela.
Perguntado se cogitava uma intervenção militar na Venezuela, Donald Trump respondeu: “Todas as opções estão sobre a mesa”.
O temor é que Nicolás Maduro use violência e o aparato militar para se manter no poder. Nesta quarta-feira, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo. Forças de segurança lançaram gás lacrimogêneo contra manifestantes que estavam bloqueando uma estrada.
Protestos contra Maduro também aconteceram em Brasília, em Madri e em Washington. Ao mesmo tempo apoiadores de Nicolás Maduro também foram às ruas em Caracas.
Em 2017, com o respaldo do Poder Judiciário, controlado por ele, Nicolás Maduro criou uma Assembleia Constituinte para exercer o Poder Legislativo. Por isso, os governistas alegam que nem a Assembleia Nacional nem Juan Guaidó têm legitimidade.
Além da crise política, a Venezuela atravessa a pior crise econômica de sua história. A inflação passa de um milhão por cento ao ano. Faltam alimentos e remédios. E a estimativa é que mais de três milhões de venezuelanos tenham deixado o país.
Maaduro discursa
No discurso, Nicolás Maduro anunciou o rompimento de relações diplomáticas com os Estados Unidos e deu um prazo de 72 horas para que todos os diplomatas americanos saiam da Venezuela. Afirmou que está sofrendo uma tentativa de golpe, segundo ele, armado pelos governos americano e colombiano, e convocou a população a agir.
As manifestações desta quarta foram convocadas tanto pela oposição como pelo governo. A data de 23 de janeiro é simbólica para a Venezuela. No mesmo dia, em 1958, caiu a ditadura do general Marcos Pérez Jiménez.
Maduro disse que está no comando por voto do povo e pediu também o apoio das Forças Armadas venezuelanas.
“Máxima lealdade, máxima disciplina”, ele disse.
Até agora, os militares vêm apoiando Maduro. O ministro da Defesa se pronunciou agora há pouco dizendo que as Forças Armadas não apoiam um presidente autoproclamado.
Maduro também cobrou que os órgãos de Justiça atuem para cumprir a lei. Ele perguntou: “Qualquer um pode se declarar presidente? Ou é o povo venezuelano que elege?”.
Mais cedo, o Supremo Tribunal de Justiça ordenou que o Ministério Público investigue criminalmente os integrantes da Assembleia Nacional.
Maduro disse que recebeu uma ligação de apoio do presidente turco Recep Erdogan. México, Bolívia e Cuba estão ao lado de Maduro.
Mas, além dos Estados Unidos, já reconheceram a legitimidade do presidente interino Juan Guaidó Canadá, Guatemala, Costa Rica, Colômbia, Peru, Chile, Paraguai, Argentina, Equador e Brasil.