Alice precisou ser convencida a escrever sua história de vida para Aaron. Conhecer seus parentes de DNA era apenas levemente empolgante para ela.
Ela está sofrendo a perda da irmã. Eu tento dizer que ela tem uma missão especial de "guardar" essas pessoas, conhecê-las e mantê-las por perto para quando sua irmã puder conhecê-las. No entanto, ela preferia ter sua irmã.
Alguns meses depois, Bryce e Madi fizeram planos para visitar Aaron em Seattle. Alice estava curiosa em ver se os irmãos e Aaron se pareciam com ela. Concordei em deixá-la participar do encontro.
Aaron organizou uma festa para a qual convidou vários colegas, amigos de escola e de faculdade. Suas ex-namoradas com seus novos parceiros e filhos também foram convidadas. Todos acampariam no terraço e celebrariam o encontro com seus filhos biológicos. Eu logo vi que Aaron não tinha um único amigo que não seria bem-vindo de volta ao seu círculo.
Visitamos o jardim de esculturas local, jogamos um jogo sobre "natureza ou criação" que mostrou algumas semelhanças surpreendentes e fizemos uma viagem para participar de um festival de artes.
Apesar da reação inicial de Bryce, ele e Madi competiram pelo afeto de Alice. Durante as férias em que se conheceram, os três saíram para jantar. Alice voltou com um sorvete na mão e uma pizza na outra. Mais tarde, Bryce enviou a ela uma estrela de Davi. Madi mandou uma ametista. Ambos são símbolos de coisas que ela tem em comum com cada um.
Eu estava namorando havia alguns anos com um homem que também se chamava Aaron. Em nossas férias, o doador Aaron sugeriu, flertando, que tinha havido uma confusão no Departamento de Namorados. Eu sorri e hesitei.
Já estava em um relacionamento e tinha consciência de que o doador Aaron era uma pessoa importante para meus filhos, mas não alguém que deveria necessariamente fazer parte da minha própria vida. Não queria estragar tudo.
Quando meu relacionamento com o outro Aaron terminou, me perguntei se a pessoa que era importante para meus filhos também poderia se encaixar na minha vida, e se Seattle seria um lugar para a gente ficar enquanto descobria. A gentileza de Aaron e a boa relação com suas ex-namoradas me convenceram de que seria seguro dar uma chance.
Uma noite, andamos pelo bairro e sentamos em um cemitério local, falando sobre DNA, como as crianças eram e quais eram nossos sonhos.
Quando dois heterossexuais se encontram, namoram e se casam, frequentemente olham com devoção um para o outro e acham que seria maravilhoso ter pessoas pequenas parecidas com eles. Eu já tinha passado uma década com essas pessoas pequenas.
Passei meu primeiro encontro com Aaron falando sobre elas. Já o conhecia e sabia que era exatamente como essas pessoas que eu amo mais que tudo no mundo. Ele era familiar em vários aspectos. Tem o mesmo sorriso e cor da minha filha mais nova. Sua empatia e socialidade? Da minha mais velha.
É difícil dizer se o DNA desempenhou um papel no nosso relacionamento. Eu sei que me sinto atraída por Aaron por todas as razões que me pareceram maravilhosas quando o escolhi em um catálogo de doadores de esperma anos atrás.
Ele é atencioso, persistente e estudioso. É apaixonado pelas palavras. É compreensivo, versado em histórias sobre pessoas e as coisas estranhas que elas às vezes fazem. Não se importa muito com o que é esperado dele. Costuma tocar sua própria música. No seu próprio ritmo. Às vezes, usando um turbante.
Quantas pessoas acham que um taxista músico e escritor pode ser o material genético ideal?
Alice e eu nos mudamos para a cooperativa de Aaron no verão de 2017. O prédio é tão grande que havia espaço suficiente para outros filhos biológicos dele. Madi, originalmente da costa leste, achou o jeito de ser de esquerda de Aaron (e de Seattle) cativante e foi viver com a gente nesta primavera.
Nós até nos juntamos a um grupo de escoteiras com outra filha biológica de Aaron, que tem a idade da minha filha mais nova e mora a cerca de uma hora de distância.
Eu logo descobri que, como mãe, aceitaria de bom grado qualquer um dos meio-irmãos das minhas filhas, faria o almoço, lavaria a roupa e cuidaria deles para sempre. São irmãos das minhas filhas, tias e tios biológicos dos meus netos.
Não crio eles, mas sinto uma vontade inexplicável de alimentá-los. Alguns são muito parecidos com Alice. Outros lembram minha filha mais nova. Nem todos têm traços de Aaron, mas inegavelmente se parecem um com o outro.
A mãe idosa de Aaron também foi morar com a gente, junto com seu gato, Bill. Ao formar uma família por diferentes caminhos ao longo dos anos, aprendi mais sobre o significado de família do que qualquer pessoa gostaria.
O DNA se tornou muito mais importante do que quando escolhi pela primeira vez um doador em um site. Mas ainda não superou a crença de que as famílias são construídas pelo amor, não pelos genes. Estar aberto a esse amor é o que acaba por formar uma família. Todo mundo pode ser acolhido e permanecer unido. Há espaço para muitos tipos diferentes de relacionamentos.
Quem pode saber quantos filhos biológicos de Aaron existem mais - ele calcula que podem haver até 67. O prédio pode acabar ficando pequeno para acomodar todos eles, mas eu tenho sanduíches e as portas estão abertas.
Todas as imagens foram fornecidas por Jessica Share.
Os cineastas Matt Isaac e Craig Downing estão fazendo um documentário sobre Aaron Long e seus filhos biológicos, chamado "Forty Dollars a Pop".